Um Momento

Se não sabes como morrer, não te incomodes; a natureza vai instruir-te completamente no local e na hora certa; ela tratará do assunto por ti, como se fosse para ela. Não te preocupes, e lembra-te, uma vida curta é tão plena quanto uma longa. Um momento no olhar pela janela para o mundo, é o mundo.  ©Fernando Kaskais Continuar a ler Um Momento

Turista?

O turismo é uma invenção (praga) da época moderna. As complexas interacções entre o teu status de turista, e as mudanças que induzes nos povos e lugares que resolvestes observar, assentam basicamente na tua capacidade incessante de te tornares incómodo. Isto resulta do simples facto de que te comportas no exterior com maneiras que jamais te permitirias ter em “casa”: impões, interferes, condescendes, violas códigos, revelas segredos. E, ao fazer isso, deixas para trás muito mais do que passos. Deixas sentimentos feridos, mau gosto, mágoa, e más memórias. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Turista?

Sem Cabeça

© FERNANDO KASKAIS Reparei de repente nas costas do homem que passava diante de mim. Eram as costas vulgares de um homem vulgar, com uma t shirt modesta num dorso de um veraneante ocasional, que põe no chão, no ritmo do andamento, os olhos tristes, alojados num rosto triste, que faz parte de uma cabeça que não existe, mas que, a existir, pensaria talvez, nos prazeres alegres e tristes, que forçosamente compõe a sua vida. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Sem Cabeça

Ler Ou Não Ler

Os livros, são talvez a melhor coisa, que o homem inventou, quando bem usados. Mal usados, ou abusados, estão entre as piores. Qual é o uso correcto? Entre outros, eles servem sobretudo para inspirar. É melhor nunca leres um livro, do que leres um, que te desvie pela sua atracção, para fora da tua própria órbita, fazendo de ti um satélite, em vez de um sistema.  ©Fernando Kaskais Continuar a ler Ler Ou Não Ler

Empobrecer

Saber fazer dinheiro é difícil, mas, saber viver sem ele, é muito mais difícil. Com o passar do tempo, é o poder da mente sobre a matéria que molda o barro da civilização. O dinheiro vem com a bagagem, viaja com os flautistas e os ursos dançarinos, suborna o padre e arma as tendas. Pode manter o status quo, seja da tirania ou da democracia; pode empregar um milhão de trabalhadores numa indústria qualquer, abrir o Canal do Suez, ou pode comprar a Mona Lisa. É um poder que vale a pena ter, mas sem o maior poder do pensamento, equivale a pouco mais … Continuar a ler Empobrecer

Antídoto

Não é com a magia que os Homens conquistam a sua imortalidade. Não é como Fausto que vendeu a sua alma a Satanás. O Homem pode fazer essa conquista, com o que aprendeu nas suas viagens através das fronteiras de cinco milénios, resgatando da ruína das famílias e da morte das cidades, o que considera útil, belo ou verdadeiro. Não têm mais nada com que construir o futuro, excepto a madeira do passado, a história explorada como recurso natural e tecnologia aplicada, que nos diz que, a história pintada nas velhas paredes e impressa nos velhos livros também é a nossa. … Continuar a ler Antídoto

Desaparecidos

A maioria dos mortos do mundo simplesmente desaparece como se nunca tivesse existido, quaisquer que sejam os seus actos heróicos ocasionais. A mais degradante das paixões humanas é o medo da morte. Ele remove as restrições e as convenções que tornam a vida social possível ao homem; revela o bruto que existe nele, e que está por trás de todos nós. Na luta corpo a corpo desesperada pela vida, não há nenhum elemento de nobreza. Aquele que está empenhado nisso, põe de lado a honra e o respeito próprio, põe de lado tudo o que faria a vitória valer a pena, e não pede mais … Continuar a ler Desaparecidos

Afundar

Se não estiveres bem atento ao terreno onde pões os pés, que esquinas dobras, ou deixas de dobrar, pode chegar um dia em que te afundarás. Afundas-te, renegando tudo, julgando assim poderes levar o passado contigo para as profundezas. Mas, o passado nunca passa. O passado nem sequer é passado. Amaldiçoarás todas as criaturas e, tendo perdido deus, que afinal, nunca tinhas encontrado, amaldiçoa-lo-ás também. Culpá-lo-ás pelo que te sucedeu. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Afundar

Espasmos

Estás a ler isto, provavelmente sozinho, em frente a uma tela de computador, és um usuário dos meios de comunicação social, e, apesar das pretensões de auto-criação, és fundamentalmente um espectador passivo. Esta não é uma postura de autenticidade, mas de narcisismo. O narcisista, alterna fantasias de total omnipotência, com espasmos de total desamparo. Isso significa, que narcisismo é muito diferente de egoísmo. É a confusão, e a insegurança mais básica, sobre os limites entre ti e o mundo. Mas, não desesperes, pois a base, ou a razão da tua (nossa) existência, estará para sempre indisponível para ti (nós), portanto, saber verdadeiramente que não sabes … Continuar a ler Espasmos

Múltiplos

Não te leves muito a sério, pois tu (tal como a maioria das pessoas, que são outras pessoas diferentes daquelas que pensam que são), tu és outra pessoa. Não és tão autêntico, ou original como pensas. Os teus pretensos pensamentos, são na realidade, as opiniões de outras pessoas, a tua vida, uma imitação de outras vidas, que são por sua vez, imitações de outras vidas. As tuas paixões, baseiam-se numa citação qualquer, que não sabes de onde veio. Para seres autêntico, deves reconhecer irónica e humildemente as limitações da tua perspectiva e esforço individual, sem te desesperares com as tuas limitações. … Continuar a ler Múltiplos

Saber Morrer

Quando a Morte chegar, quero que me encontre com o melhor aspecto possível. Não quero que me encontre meio morto, meio apodrecido; sem um rim, ou com o fígado feito num oito, ou com os pulmões sufocados, nem com o coração partido, nem com o cérebro cheio de buracos, ou com a pele a parecer um peixe mal escamado. Não senhor, nada disso, quero ser um belo cadáver, ou, pelo menos, um cadáver apresentável, a quem ela possa dar o seu beijo gelado, sem um sentimento de repulsa. Se me apanhar desprevenido, pelo menos, que faça o favor de me … Continuar a ler Saber Morrer