Presentes Envenenados

A vida é assim. Raramente te apercebes na altura de que os momentos felizes escondem uma função: a de te levar a crescer, a ver a vida como ela é. Não é o destino que se obstina contra ti, é a vida que tenta renovar a sua mensagem. O Diabo disfarça-se de anjo e oferece-te presentes ignóbeis envolvidos em embalagens maravilhosas. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Presentes Envenenados

Intimidades

Naqueles momentos íntimos, a mulher ficava horrorizada mas resignada. Nunca conhecera sexualmente nenhum homem, que á sua maneira, não fosse um assombro e, de alguma forma, uma excentricidade deprimente, animalesco, infantil, acriançado, cujo arfar era uma espécie de manifesto fingimento animal do momento de intimidade. Aquilo desarmava-a, arruinava a sua pose de mulher inacessível, tornava-a vulgar, isto é, rude e obviamente sexual. Em momentos como aquele, estava disposta a tudo, seria de quem a quisesse tomar. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Intimidades

Oblíquo

© FERNANDO KASKAIS Em fotografia, mostrar qualquer coisa é mostrar o que está oculto. O olhar pode ser oblíquo, mas não é necessário que o fotógrafo, para salientar o mistério, recorra a temas exóticos excepcionalmente impressionantes. O que é familiar, através do uso da câmera, pode tornar-se misterioso. A realidade é, como disse Viktor Shklovsky, desfamiliarizada. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Oblíquo

Religião Ou Alucinação?

Se Deus é omnipresente e omnisciente, então sabe tudo e está em todo o lado, num altar ou numa casa de banho, num boi ou num homem. Há oito biliões, e uns trocos, de deuses, pois deus é todos os humanos, e todos os humanos são deus. Todavia, o teu deus, embora seja o mesmo do teu vizinho, é diferente, pois tu imagina-lo de uma forma e ele de outra. Quem quer chegar a deus através da religião (qualquer religião), e dos seus agentes, está a pagar uma comissão demasiado alta para algo que nunca virá a acontecer. É como … Continuar a ler Religião Ou Alucinação?

Self

No interior da tua mente, tens que competir com todas as peças de Xadrez, com todas as peças do sistema, com os milhões de movimentos possíveis e imaginários. Jogas partidas simultâneas em níveis distintos, com todos os que fazem parte da tua vida e, até, com aqueles e aquelas que não fazem. Umas vezes ganhas, outras perdes. Mas, no exterior; no exterior a conversa é outra, as regras são outras, podes lidar directamente até com o próprio Diabo. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Self

De Derrota Em Derrota Até á Vitória Final

Á medida que os anos passam, o peso crescente das mortes que suportou, as verdades banais e, as constantes e lamentáveis ​​figuras que viu os outros fazerem, percebeu que, a ignorância intencional e a estupidez implacável dos seus semelhantes o pressionam, vão dobrando aos poucos a sua coluna, tentando incliná-lo em direcção à terra, para a qual, com ou sem ajuda, se dirige. Não está no ponto de ansiar por princesas, e não está sozinho, mas, mesmo assim, uma certa solidão está a invadir os seus domínios, e, os arautos de sua própria partida estão a surgir no horizonte. Só uma … Continuar a ler De Derrota Em Derrota Até á Vitória Final

O Vigarista Segundo Edgar Allan Poe

Segundo Poe, o homem foi feito para vigarizar. É esse o seu objectivo, o seu fim. A origem da vigarice remonta á infância da raça humana. A vigarice, ou a ideia abstracta traduzida pelo verbo vigarizar, é algo suficientemente bem entendido. Contudo o facto, a acção, a coisa, a vigarice em si, é bastante difícil de definir. A vigarice, devidamente considerada é um composto, cujos ingredientes, entre outros, são a minúcia, o interesse, o engenho, a perseverança, a audácia e a impertinencia. O vigarista é minucioso. As suas operações são em pequena escala. Quando é tentado pela especulação em grande … Continuar a ler O Vigarista Segundo Edgar Allan Poe

Aguentar

Esperara sempre da vida alguma coisa horrível, talvez não tão persistente como aquilo que aconteceu nos últimos anos. Sabia que ia sentir-se esmagado, destruído, porque embora fosse capaz de sobreviver a qualquer tristeza que o pudesse atingir, não pensava possuir a força necessária para aguentar o sofrimento da sua companheira, inocente perante os abusos da vida. Não sabia ainda como é que os ossos não se lhe transformaram imediatamente em pó, embora, para ele, ser pó e nada sentir, fosse o que naqueles dias gostaria de ser. Havia alturas em que se sentia como um pardal que caíra do ninho … Continuar a ler Aguentar

Pessoas Sexualmente Desorientadas

Se um Trans semi-nu, cuspindo ódio e disparates, tem o direito de invadir imbecilmente uma peça de teatro, perturbando actores e espectadores, condicionando o encenador nas suas escolhas do elenco, exigindo o que não pode exigir, então, também tenho direito de me armar em imbecil (mas vestido), e inventar mais um género sexual. Assim, criei as PSD, sigla que não tem nada a ver com o partido do mesmo nome, mas, que, designa Pessoas Sexualmente Desorientadas. Era para ser Pessoas Sexualmente Destrambelhadas, mas não quis ofender os destrambelhados. Podemos lá meter de tudo, mas, quem se adequa mais a este … Continuar a ler Pessoas Sexualmente Desorientadas

Treino

© FERNANDO KASKAIS As mãos e os braços apoiados no ferro parecem ajudar a empurrar o espaço para a frente e para baixo. Estamos no campo dos movimentos, que podem até nem ser expressos por nenhuma alteração visível da posição do corpo e dos seus membros. Paira aqui uma obsessão profunda pelos músculos. Mais que a capacidade física, prevalece uma espécie de atletismo da alma. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Treino

Germinar

Independente da tua vontade, todas as experiências da tua vida, mesmo o momento mais insignificante ou o acto mais simples, são guardadas na tua memória, incluindo as conversas mais imbecis que foste “forçado” a ter com os piores idiotas que conhecestes. Por isso, é aconselhável que evites a todo o custo aturar chatos e imbecis, e faças os possíveis para te livrares deles. As imbecilidades são como ovos de serpente, ficam a germinar a um canto escuro do teu subconsciente, até um dia brotarem do instinto animal e, serão o mais próximo que poderás produzir da idiotice pura. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Germinar

Caminhando

© FERNANDO KASKAIS Porque faço caminhadas, de verão e de inverno, faça sol ou chuva? Por três razões; Primeira, a razão das caminhadas são elas próprias. Segunda; oferecem-me uma ocupação, uma intenção necessária. O movimento é igual ao significado. O movimento transforma-se num bálsamo para a melancolia. Terceira; também caminho por ela, a minha companheira que, paradoxalmente, não me pode acompanhar, dando eu os passos que ela não consegue dar, por estar debilitada. Caminho para encontrar a solidão que me permite recordar a nossa vida em comum, em todos os pormenores. Caminho para conseguir alguma sabedoria através da contemplação e … Continuar a ler Caminhando

Fantasmas

O Céu, o Inferno, Deus e o Diabo não existem, mas, os fantasmas podem existir. Porque os seres humanos são compostos de carne e energia e, por vezes, quando a carne desaparece, a energia pode permanecer. Os seres humanos são a mais teimosa, egoísta, gananciosa, cruel, psicótica e maléfica espécie do Universo conhecido. Alguns humanos recusam-se a morrer, são demasiados teimosos para morrer e, outros, são demasiado carentes para os deixar morrer. O espírito é uma sanguessuga de energia, que por vezes se agarra a sítios e a pessoas que foram importantes para ele, e, é por isso que há … Continuar a ler Fantasmas

Arte Bruta

A arte que agrada, é arte que engana. Porque em principio, o objectivo da arte é, ou deveria ser, perturbar-nos, deixar-nos incomodados connosco e desconfiados do mundo, debilitar a nossa sensação da realidade, para nos obrigar a reconsiderar tudo aquilo que julgamos saber. A “melhor” arte deveria quebrar-nos emocionalmente, pôr-nos intelectualmente de rastos, até ao ponto de deixar-nos fisicamente doentes, enchendo-nos de desprezo pelas tradições culturais que nos envolvem, e nos afogam num mar de mediocridade e conformidade. Infelizmente, a maioria dos “artistas” contemporâneos estão mais desejosos de agradar e vender, do que propriamente produzir arte. Quando pretendem chocar alguém, … Continuar a ler Arte Bruta

Suspeitas

A vida é como uma fina camada de gelo sobre um lago no principio do Inverno: mais frágil do que parece, cheia de fracturas invisíveis, com uma escuridão gelada lá por baixo. Embora feliz, mesmo satisfeito, julgas-te demasiado abençoado pela fortuna, amigos e família. Quem se atreve a acreditar na boa sorte, terá também de acreditar na má. Suspeitas que, um dia o destino quererá fazer um ajuste de contas. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Suspeitas

Suficiente é Muito Bom

Existe uma ampla gama de males sociais a nível planetário, que estão profundamente enraizados na nossa obsessão com o exito, e, a “grandeza” enquanto valor. A mentalidade (mesquinha) da busca pela grandeza tem dois componentes principais. O primeiro afecta as nossas vidas enquanto indivíduos, quando consideramos que o nosso propósito neste mundo é ser o melhor (pessoa, atleta, cientista, guitarrista, etc.) e, ter o melhor (carro, casa, parceiro(a) ou curso universitário), que as nossas habilidades ou oportunidades permitam. O segundo aspecto da mentalidade de grandeza afecta as nossas vidas sociais, quando agimos com base no princípio de que, como sociedade, devemos … Continuar a ler Suficiente é Muito Bom

Jimmy

© FERNANDO KASKAIS Jimmy, o cínico. Um cínico é um pessimista, alguém que está cansado do mundo e das convenções sociais. A origem da palavra, porém, é um pouco surpreendente: ela deriva de uma antiga palavra grega “kynikos“, que significa semelhante a um cão, ou, do genitivo “kynos“, cão. Mas o que tem o cinismo a ver com cães? Antístenes e Diógenes, foram dois filósofos gregos que se auto-denominavam cães. Para Diógenes, o mais conhecido, ser verdadeiramente humano significava viver como um cão, ou viver na rua. Para o Jimmy, ser cão, significa viver como um humano. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Jimmy

A Vã Gloria da Habitação

A razão, é uma divindade mortal, um semi-deus que morre, e, mesmo que renasça, torna inevitavelmente a morrer, ás mãos da vaidade. As ideias de grandeza são como as marés; aparecem, avolumam-se e crescem no seu próprio tempo e espaço e, a seguir decrescem, apagam-se e desaparecem quando a grande roda da vida gira. Assim é o homem, uma frágil estrutura, de algo pouco mais substancial que a bruma, fraco e impotente e, tal como as ideias, o homem é uma morada temporária, como uma tenda, e uma tenda deveria ser o seu lar adequado. Pois uma tenda é uma … Continuar a ler A Vã Gloria da Habitação

Entre o Coração e a Mente

Quando a própria vida é insana, como podemos saber onde reside a loucura? Parece que vivemos numa encruzilhada entre aquilo que sentimos e aquilo que pensamos. Nos dias de hoje, assistimos ao horror em directo e embora, aparentemente, o coração leve uma injecção de adrenalina, o cérebro parece adormecido. Dá a impressão que tudo se passa numa outra dimensão, ou num estranho “Déjà vu”. Mas, afinal, que história é que o coração conta? Sabemos que a mente e a matéria fluem uma para a outra de maneiras que não podemos controlar. Pensar é sentir: as nossas mentes estão sempre a … Continuar a ler Entre o Coração e a Mente