Gigante

© FERNANDO KASKAIS Nem sempre as fotografias que tiramos perturbam o mundo com a vaidade, porque é da vaidade que normalmente trata a fotografia. Aparecer e ser testemunhado é fundamental para existir, para garantir presença no mundo real e virtual. A fotografia é uma batalha perdida contra o esquecimento, contra o desprezo a que o futuro inevitavelmente condena o fotógrafo e o fotografado. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Gigante

Saber Aceitar

Aquilo que deveria encorajar o homem sábio, é a procura heróica pela normalidade, que existe em cada um de nós, quase instintivamente e contra toda a resistência. De uma maneira diferente do comum dos mortais, deveria considerar os cataclismos políticos, os golpes de estado, as revoluções e as guerras, como considera os fenómenos naturais, um ciclone ou uma tempestade. Aceitá-los com uma certa resignação apática e alguma dose de fatalismo. Ninguém pode fazer nada a não ser esperar. Ter como principio que o regresso á normalidade (ao Tao), ocorrerá mais tarde ou mais cedo, porque nesta vida tudo é provisório, … Continuar a ler Saber Aceitar

A Anatomia Do Embrutecimento

Há milénios que a humanidade vive sempre a mesma tragédia. A guerra pura e dura, assim como nas suas várias formas ou mutações, politicas, religiosas, económicas, etc. A principal diferença entre as tragédias antigas e modernas, é que nas primeiras os heróis trágicos reconhecem tardiamente a natureza catastrófica de sua condição, enquanto nas últimas, o reconhecimento está presente desde o início. Em contraste com as tragédias antigas, onde a acção se desenrola, conscientemente ou não, na procura de conhecimento, o drama moderno realça a paralisia da acção por um excesso de conhecimento. Quanto mais sabemos, pior nos saímos, apercebemo-nos da nossa própria impotência … Continuar a ler A Anatomia Do Embrutecimento

A Morte Em Cada Esquina

Não te iludas, tudo, mas, mesmo tudo aquilo que fazes, é para afugentar a morte. Sabes que essa cabra aparece nos lugares mais inocentes, no piso escorregadio da banheira, nos degraus da escada, na beira da estrada, em qualquer uma das tuas artérias, ou, em algum pedaço de carne que te bloqueia a traqueia. Para onde quer que olhes, lá está ela, sorridente e manhosa, armada em tonta. A profissão, a fama, o dinheiro e a família, são barreiras que colocas entre ti e a morte. Todas inúteis. ©Fernando Kaskais Continuar a ler A Morte Em Cada Esquina

Actividade Nefasta

A sociedade moderna ignora a necessidade de solidão: daí a proliferação da doença de estar sempre activo, de estar sempre a fazer alguma coisa, como se fosse crime uma pessoa sentar-se calmamente e deixar o espectáculo de marionetas que o mundo representa, desenrolar-se perante nós. Essa incapacidade de apreciar o mistério e o assombro, advém do medo da solidão, que é uma profunda necessidade do espírito humano, e, que é vista como um castigo ou um suplício, mas, quase nunca como um agradável ingrediente indispensável á vida normal. Desta falha de reconhecimento nascem grande parte dos problemas domésticos, e um … Continuar a ler Actividade Nefasta

Musica Oculta

Cada um de nós é uma melodia. Não há uma situação em que nos encontremos em que não exista uma espécie de vocalização a interagir entre nós, as pessoas e as coisas. Os ambientes, os climas, as atmosferas, todos têm uma cadência, uma vibração, uma tonalidade, que ao longo do dia, dos meses e dos anos, vai sofrendo vários cambiantes. Essas cadências, ritmos e melodias, constituem, podemos dizer assim, a musicalidade de toda a existência. Se calhar nem sempre são audíveis, ou escutadas. Cada um de nós têm uma melodia de fundo com notas especificas e instrumentos seleccionados, que constituem … Continuar a ler Musica Oculta

Diversão e Concentração

O paradoxo da diversão é que potencializa enormemente a inconsciência, ao ponto de nos fazer perder completamente, de não sabermos onde estivemos, o que fizemos ou o que dissemos. A descontracção e o relaxamento fazem com que a pessoa perca a concentração em si mesma. No entanto, se tentarmos estar conscientes e concentrados, perdemos aquilo que poderíamos ganhar com a diversão, ou seja, a própria distracção, o desanuviamento. Quando o êxtase é como a embriaguez, cria uma atmosfera tão tóxica que nos apaga. Quando a concentração é máxima, vivemos um momento mais ou menos longo que nos isola em nós … Continuar a ler Diversão e Concentração

Guerrilha

© FERNANDO KASKAIS O valor da fotografia não depende exclusivamente da fotografia que se vê, mas, depende sobretudo, das emoções associadas ao acto de ver. O que está fixado na memória não é o conteúdo da memória, mas sim a sua forma. O fotógrafo não está interessado no que pode significar a imagem para quem a vê, está interessado apenas na intensidade visual que persiste no tempo como uma cicatriz, como o resultado de um atentado.  ©Fernando Kaskais Continuar a ler Guerrilha

Do Ensino

Há quem confunda “aprender” com “memorizar”, o que é obviamente errado, pois aprender é um comportamento de nível altamente racional e intelectual, como a lógica e a aritmética. Há muitas coisas que aprendemos sem esforço, há outras que nunca aprendemos nem aprenderemos. O exercício e o uso são fundamentais para colocar em prática o que se aprendeu. Todavia, a aprendizagem depende de deixar-se ensinar e, só pode ensinar quem compreendeu e só consegue aprender quem compreende. O que se ensina aos alunos actualmente nas escolas, é, sem duvida, matéria decalcada, e como acontece com os decalques, os conteúdos vão ficando … Continuar a ler Do Ensino

Só Um Sonho

Possivelmente terás interesse no teu futuro, mesmo quando o projectas como um tempo em que “já cá não estarás”. Mesmo que não acredites na sobrevivência espiritual da alma, há uma representação do sono eterno como a total ausência de consciência. Será tudo como um sono profundo sem sonhos. A eternidade do tempo futuro será como a eternidade do tempo passado antes de teres nascido. O problema é que, se não existias antes e, não existirás depois, é muito provável que nunca tenhas existido. Tudo não passou de um sonho, mas, quem é que o sonhou? ©Fernando Kaskais Continuar a ler Só Um Sonho

De Vitória Em Vitória…

Chega-se ao fim da vida, olhamos para trás e sentimos saudades, não daquilo que foi, mas, daquilo que poderia ter sido, do que deveria ser. Lutamos uma vida inteira para preencher o vazio que existe nos nossos corações, sofremos para dar sentido ao que nunca teve nem terá sentido. Descobrimos enfim, que dentro de nós já existia a certeza de que uma vida, a nossa vida, qualquer vida, está destinada ao fracasso e, que é quando chegamos a essa conclusão, que compreendemos a sua beleza, a sua ironia, a de que de vitória em vitória corremos gloriosos para a derrota … Continuar a ler De Vitória Em Vitória…

Inteligibilidade

Rezas a Deus, mas ele permanece silencioso, não se manifesta, abandonou-te ás tuas cogitações, á tua dor. Mandou-te á merda. Sentes-te um desgraçado, vitima de tantas adversidades, da má sorte, de um azar que parece nunca mais acabar. É evidente que não és feliz, és mesmo um desgraçado, mas, atenção, não és obrigatoriamente um miserável. Podes preservar a tua dignidade, não agindo mal, nem levando a cabo acções perversas, não sendo cobarde, nem insensato. Não te tornando injusto nem impiedoso. Se tens verdadeiramente bom carácter e, és sensato, suportarás toda a espécie de sorte nobremente, tentando agir sempre da melhor … Continuar a ler Inteligibilidade

Mão

© FERNANDO KASKAIS Mondrian tentou aplicar o reducionismo na arte, reduzindo as formas e as cores ao essencial. Malevich, com o suprematismo, procurou executar a mesma ideia, reduzir a realidade a figuras geométricas simples, que representariam não a visão limitada dos sentidos, mas uma verdade subjacente e arquetípica. Na fotografia, a lógica como modo de conhecimento pode ser substituída pelo absurdo. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Mão

Fortuna

Os homens que andam obcecadamente á procura de uma fonte de riqueza, estão simplesmente á procura de algo que falta dentro deles e nunca encontram. Estes homens, e mulheres, que parecem perseguir a fortuna, são conduzidos pelos seus demónios interiores enquanto tentam fugir, a maior parte das vezes sem exito, a algum estado de espírito pernicioso. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Fortuna

Ulisses, Perdido Na Tradução

Nunca consegui ler o Ulisses de James Joyce em português. Porquê? Porque é praticamente impossível tornar o livro legível noutra língua que não seja a original. De propósito ou não, Joyce fechou a sete chaves a sua obra maior, trancou-a, transformando-a num pesadelo para qualquer tradutor de qualquer língua do mundo. Não faz sentido tentar encontrar sentido, para aquilo que só tem sentido quando existe precisamente como está. ©Fernando Kaskais Continuar a ler Ulisses, Perdido Na Tradução

Carta De Condução De Mulheres

A mulher é um ser fantástico, mas, praticamente impossível de conduzir (compreender), pela maioria dos homens. Não há escolas de condução para aprender a conduzir mulheres, aprende-se com a prática, mas, há quem nunca chegue a aprender, por muitas mulheres que tenha tido, comete sempre os mesmos erros. Com a mínima distracção o homem despista-se, e dá por si abraçado a um poste, de pernas para o ar na beira da estrada, ou pior ainda, enfiado num hospital psiquiátrico. Ao contrário do carro, a mulher não é um objecto que só precisa de manutenção e combustível. É uma “máquina” humana, … Continuar a ler Carta De Condução De Mulheres

Viagens Inúteis

Toda a gente, ou, quase toda a gente, gosta de viajar, mas, já foi tempo em que as viagens eram interessantes. Hoje em dia, a viagens são uma armadilha, uma perda de tempo, pois o viajante já não é viajante, é turista, um voyeur insaciável, com um problema imperceptível de vaidade, presunção e mitomania patológica. Um turista que não percebe que a viagem não lhe alarga as vistas, não o torna sofisticado, nem “actualizado”, e, que, é apanhado pelo superficial, enquanto se intromete na privacidade das outras pessoas metendo o nariz em toda a espécie de locais onde não deveria … Continuar a ler Viagens Inúteis