E você? É mentalmente saudável?

Self-Portrait by Ernst Mach (1886)

Características de uma personalidade madura. Ou alguém com capacidade para enfrentar o próprio cérebro.

Neste artigo vamos definir os contornos de uma personalidade madura cujos diferentes componentes estão em equilíbrio. Vamos enunciar aqui dez (10) “regras” que ajudam a traçar o perfil de uma personalidade equilibrada, que em princípio é capaz de perceber quando o seu cérebro lhe está a pregar partidas. Estas “partidas” tanto podem ser, ideias obsessivas e recorrentes, delírios, ideias de suicídio, fobias, paranoias, manias e mesmo alguns tipos de alucinações visuais e auditivas.

1 – Conhece-te a ti mesmo. Esta máxima, se aplicada, ajudar-nos-á a ver a realidade e as aptidões e limitações de cada um de nós. Daqui decorrem duas importantes condições: ser realista e ao mesmo tempo exigente com as nossas próprias possibilidades. Aceitar o que somos e o que temos, conhecer as nossas qualidades e a partir daí, sermos rigorosos com a nossa propia pessoa, mas dentro de uma flexibilidade inteligente.

2 – Ter um modelo de identidade. Actualmente isso é difícil. Porque o homem moderno perdeu o rumo e não sabe como escapar á massificação. Tornou-se cada vez mais impessoal e anónimo. O melhor dos mestres é o exemplo. No mundo moderno há cada vez mais gente que cresce e se desenvolve sem um modelo de identificação.

3 – Naturalidade. É uma qualidade essencial da personalidade estável e harmónica. Significa simplicidade e espontaneidade. Implica também que nos aceitemos fisicamente e comporta características psicológicas tais como a franqueza que nos leva fugir da afetação e não desejarmos aparentar o que não somos.

4 – Ter um projecto de vida. Virado para o futuro, ou seja, ter capacidade para organizar o dia de amanhã. Este projecto deve assentar em três grandes pilares: amor, trabalho e cultura. O amor dá sentido á vida. O trabalho obriga-nos a dirigir os nossos esforços numa determinada direção, mediante uma actividade profissionalizada. A cultura é uma forma de liberdade.

5 – Coerência interna. Um projecto pessoal deve conter o menor número possível de contradições, e deve também responder a uma correcta interpretação da vida.

6 – Equacionar coração e cabeça. Deve-se tentar harmonizar a afetividade com a razão, e saber realizar simultaneamente os sentimentos e a inteligência. Isto significa capacidade para analisar correctamente as suas vivências, e saber combater a hipersensibilidade e a suscetibilidade. Por outras palavras, saber controlar as emoções e as contrariedades. Ser capaz de reconhecer a complexidade da vida e ao mesmo tempo a sua simplicidade.

7 – Ter uma organização temporal saudável. Isto consiste em viver o presente, tendo digerido e superado o passado, com tudo o que isto significa na projeção para o futuro. A pessoa psicologicamente sã, vive virada para o futuro, mas tem sentido do presente e sabe tirar partido do que já viveu.

8 – Ser senhor de si mesmo. Perante todas as crises que se apresentam no mundo, podemos afirmar que o governo mais difícil é o de si mesmo. Sermos senhores de nós mesmos é o resultado final de uma pedagogia interior. Saber superar as frustrações é a única maneira de continuar a avançar e de vencer a adversidade. Autocontrolo positivo sem pressões neuróticas é uma forma de nobreza, é uma espécie de aristocracia privada.

9 – Sexualidade resolvida. Atenção machões e ninfomaníacas, numa personalidade madura, a sexualidade estará sempre em terceiro ou quarto plano. No entanto é natural que nos adolescentes e nos jovens a sexualidade esteja em primeiro plano. Isto por uma questão de idiossincrasia fisiológica. A sexualidade é algo natural, mas a sexualidade humana é muito mais do que o sexo e não pode reduzir-se ao puramente físico, posto que comporta um intercâmbio complexo de elementos físicos, psicológicos, espirituais, sociais e culturais.

10 – Uma correcta harmonia entre constituição corporal e fisiológica. A aparência e a realidade física são normais. Muitos transtornos de personalidade advêm da não-aceitação do próprio corpo. Somos como somos e devemos ser capazes de viver com isso. Isto é um sintoma de maturidade.

Bibliografia

ALLPORT, G.W., La personalidade, Herder Barcelona, 1986

FROMM, E., Man for Himself, Rinehart na Winston, Nova Iorque, 1947

JUNG, C.G., Psychological Types, Harcourt. Brace, Nova Iorque. 1923

MASLOW, A. H., Motivation and Personality, Harper, Nova Iorque. 1954

 

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©Fernando Kaskais

 

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